Quem anda na lama leva sempre um pouco de barro nos sapatos. Não tem jeito, andou no barro ele gruda e vai se acumulando na medida em que se anda. Vai se soltar se os sapatos forem sacudidos, mas, aí outros barros vão grudando em sua sola. É comum se sapatear para deixar um pouco de barro para trás, mas algum sempre fica. Quando se chega em casa os sapatos estão sujos porque se andou no barro, tem restos dele ainda grudado. Se não quiser entrar em casa deixando rastros de barro, é preciso antes de entrar livrar-se dele. Se deixar os sapatos à porta sem tirar-lhe o barro, no dia seguinte vai encontrá-los ainda embarrados. Se entrar com eles vai deixar rastros pela assoalho sujando a casa. Para evitar que isso aconteça pode-se fazer uma limpeza dos sapatos, com um pano, uma escova, água... Barro é assim, não desgruda fácil a menos que se tome providências de separá-lo dos sapatos!
A estória dos sapatos embarrados é símbolo que se pode aplicar a situações existenciais. Senão vejamos. Todo mundo que luta, que trabalha, que busca, que sofre, que corre atrás de suas responsabilidades e de seus sonhos, se depara com situações que não tem jeito de evitar, são dificuldades inerentes a elas, são consequências que andam juntas, como quem anda no barro vai sujar os sapatos!
Diante disso temos duas alternativas, carregamos todos os problemas conosco, ou vamos nos livrando deles ao longo do caminho. Nos sapatos uma sacudida permite livrar-se de um pouco dele, na vida também são necessárias umas sacudidas para não se sobrecarregar demais. Mas, é difícil, por exemplo, quando se chega em casa sem levar preocupações junto. Um jeito de se livrar dos problemas é não os carregar sempre conosco. Deixá-los fora de “casa” para não contaminar o ambiente que é para ser desfrutado com a família. Assim como o barro precisa sair de nossos sapatos, também os problemas precisam ser sacudidos e deixados no seu passado. Resolvê-los também depende de um distanciamento deles, para não se confundir com eles. Nós nascemos antes de nossos problemas, por isso temos prioridade. Não somos nossos problemas, podemos, em algum momento, estar com algum problema. Fazer essa distinção é importante para não confundir as coisas. Não podemos confundir o barro com os sapatos! Se tomamos distância dos nossos problemas teremos mais facilidades para resolvê-los. Não precisamos levar os problemas do trabalho para casa! Muito menos ficar com eles o tempo todo. Diante de alguns, é preciso dar tempo para encontrar a solução, é preciso ter paciência e tempo para pensar como resolver. Alguns podemos dar conta sozinhos, outros precisamos de ajuda de alguém mais experiente ou especializado e de alguns outros precisamos aprender a conviver sem nos deixar dominar por eles. Por exemplo, às vezes, uma doença que contraímos e se torna crônica, é como um barro que gruda e não desgruda. A vida é assim feita de lutas, conquistas, alguns fracassos, não podemos nos iludir que tudo sempre sairá como queremos. O que não convém é desanimar diante das dificuldades. De vez enquanto é preciso fazer uma faxina mental e deixar no passado aquilo que é do passado, não precisamos carregar nas costas tudo aquilo que se acumulou. Como fazemos com os sapatos, sacudindo-os para livrar-se do barro, assim na vida situações passadas deixá-las no passado. Por exemplo, se alguém cometeu uma injustiça contra você, ou o ofendeu atingindo sua autoestima, ficar remoendo isso e carregando ódio pela pessoa, não vai resolver. Quem sofre é você que fica com esse barro grudado, a pessoa que o ofendeu não está nem aí com seu ódio. Assim tantas outras situações que é preciso livrar-se delas. Barro é barro, sapato é sapato. Os sapatos andam no barro, mas também no seco, tomam poeira, mas não deixam de ser sapatos. Os problemas são os problemas, a vida é a vida, embora muitas vezes se cruzem, mas precisamos distinguir uma coisa da outra.
Não deixe sua vida ficar o tempo todo “enlameada” pelos problemas, eles existem, mas você nasceu antes, por isso tem precedência. Continue na sua luta, lembrando que você é mais que seus problemas. Não abandone os sapatos porque se sujaram com o barro, não deixe de lutar porque há problemas, eles também fazem parte da vida! Como os sapatos pisam no barro e este gruda neles, mas não deixam de ser sapatos, mesmo quando embarrados, assim na vida aparecem problemas, mas ela própria não é um problema.
Autor:
P. Deolino Pedro Baldissera, sds