
“FRATERNIDADE E AMIZADE SOCIAL”
“Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).
Em 1964 Dom Helder Câmara, como secretário da CNBB propôs que a Campanha da Fraternidade fosse desenvolvida em todo território nacional no período da Quaresma impulsionando o processo de reflexão, adesão e conversão como fiéis discípulos de Nosso Divino Salvador Nosso Senhor Jesus Cristo.
Assim há 60 anos os temas nos levam ao crescimento espiritual e ao testemunho do seguimento de Jesus Cristo. Os temas são indicados pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a partir da análise das sugestões recebidas de leigos e leigas, agentes pastorais, presbíteros e diáconos, religiosos e religiosas, ou seja dando a oportunidade de todos contribuirem com a indicação dos assuntos a serem abordados.
Neste ano de 2024 a Campanha da Fraternidade nos convida a compreender a importância de acolhermos todas as pessoas como irmãos e irmãs.
A sugestão partiu do conteúdo da Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, onde nosso Santo Padre insiste na importância de vivenciarmos no cotidiano a fraternidade com todas as pessoas, assim como o Divino Salvador que não fazia distinção de pessoas, mas acolhia a todos como fez com a Mulher Cananéia, com a Samaritana, com a adúltera, com o Oficial do Exércíto Romano entre tantos outros.
Também dos primeiros cristãos que com seu testemunho de amor, sem julgamento, não impunham sua doutrina, mas testemunhavam os ensinamentos do Mestre Jesus. Por isso tinham uma crescente adesão de pessoas a nossa fé.
Assim a proposta da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, é que como verdadeiros discípulos de Nosso Divino Salvador, Jesus Cristo acolhemos a todas as pessoas como nossos irmãos e irmãs, respeitando suas vidas dentro dos contextos religiosos e sociais.
Que superemos as crises da Síndrome de Caim que dissimina o hiperindividualismo, egocentrismo, ganância, o ódio e rancor que promovem as divisões e o negacionismo do próximo que leva a alterofobia.
E como no ensina o nosso Mestre Jesus, amemo-nos uns aos outros, como ele nos amou (conf. Jo 13, 34), seguindo o modelo dos apóstolos e santos, que foram verdadeiros imitadores de Cristo Jesus.
Padre Jordan insiste em seu diário Espiritual que: “Jamais desprezes alguém, pois, todos foram redimidos por Cristo! Veja bem: o que fizeste ao próximo, foi a Jesus que o fizeste!’ (D.E. I/ 21,2).
Que o Bem-Aventurado Francisco Maria da Cruz Jordan e a Bem-Aventurada Maria dos Apóstolos, fiéis seguidores dos ensinamentos de Cristo Jesus, nosso amado Divino Salvador, nos inspirem no nosso discipulado como verdadeiros irmãos e irmãs de todo ser humano com quem convivemos em nossa caminhada.
Uma abençoada quaresma num processo de conversão, com orações, jejuns e esmolas a quem necessita. E que esta preparação nos conceda uma Feliz Páscoa!

Autor(a):
DOLAINE REGINA DE SOUSA COIMBRA SANTOS
Leiga Salvatoriana, Advogada, Teóloga,
Membro da Equipe Diocesana da Campanha da Fraternidade
Representante do Sub-regional Sorocaba – Regional Sul 1 da CNBB
Integrante da Comissão Nacional de Campanhas da CNBB

As tentações no deserto
A fome não foi criada, mas radicalizada pela pandemia da covid-19, que enfrentando desde março de 2020 e que, com certeza, marcará todas as nossas ações nesta década. A fome no Brasil é um escândalo! Um escândalo de proporções inimagináveis.Em nosso País, há 125 milhões de brasileiros que nunca sabe quando terão a próxima refeição. Tudo começa com um ato de ver. É preciso fazer como Jesus: “Levantar os olhos e ver ” a realidade da fome no Brasil. Como podemos superar as tentações do mundo para sensibilizar a sociedade e a Igreja para o enfrentamento do flagelo da fome?
Jesus nos ensina a jejuar...
Jejuar de brigas, de caprichos, de maldades, de nossos vícios...
Mas e quando este jejum é por falta de alimento na mesa do nosso próximo?
Quando centenas de pessoas passam fome, sem teto ao menos uma refeição ao dia.
Será que estamos trabalhando o nosso ver? Estamos enxergando as desigualdades em nossa comunidade? Estamos acomodados em não reconhecer, não estimular e não mobilizar a sociedade para que haja uma sólida política de alimentação no Brasil e em nossa comunidade.Precisamos superar as tentações existentes assim como Jesus no deserto, as tentações que todos nós cometemos e que em muitas vezes não percebemos:
- A tentação da gula, como por exemplo uma pessoa comendo de forma exagerada;
- A tentação da desigualdade, como por exemplo quando uma pessoa tem com fartura e outra falta o essencial para sobrevivência;
- A tentação do consumismo, como por exemplo quando compramos muito mais do que realmente precisamos e não nos importamos com os que não possuem o necessário.
É condenável que seres humanos sejam deixados morrendo de fome por causa da indiferença egoísta, com desperdícios alimentares e inúteis refinamentos gastronômicos; é moralmente condenável quem banqueteia enquanto o pobre espera inutilmente à porta. A festa, de fato, é para louvar somente se for vivida na hospitalidade, na convivialidade, no amor compartilhado.
Ouçamos o Papa Francisco: “Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, em vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca dos 3T (Terra, Teto e Trabalho). ”
Para que assim, possamos contribuir para o combate à desigualdade da fome. Dai-lhes vós mesmos de comer, somos nós Comunidade, que devemos agir!
Quem tem fome, tem pressa.

Autor:
Eq. Campanha Fraternidade Paróquia N. Sra. Lourdes
Fonte: Texto Base CF 2023

“Dai-lhes vós mesmos de comer”
A Campanha da Fraternidade tem origem nas reflexões de 03 padres das Cáritas Brasileira para arrecadar recursos para as ações assistenciais aos necessitados. Assim na quaresma de 1962 na Arquidiocese de Natal, Rio Grande do Norte é lançada sua primeira edição.
No ano de 1963 mais 16 dioceses do regional Nordeste aderem a proposta. Diante da ação bem-sucedida no ano de 1964 a CNBB – Conferência dos Bispos do Brasil expandem a Campanha da Fraternidade a nível nacional.Nos primeiros anos de 1964 e 1972 em sintonia com os ensinamentos e conclusões do Concílio Vaticano II, o tema proposto referia-se em repensar o modo de ser Igreja e a proposta de conversão voltando-se ao coração de Cristo, o Divino Salvador.
Tal projeto foi tão bem acolhido pela Igreja Universal que a partir do ano de 1970, Papa S. Paulo VI passa a enviar mensagem motivacional e de aprovação a Campanha da Fraternidade.
De 1973 a 1984, os temas apresentados explicitam a preocupação da Igreja com a realidade social do povo, denunciando o pecado social e promovendo a Justiça. A partir de 1985 até os dias atuais A Igreja volta-se as situações existenciais do povo Brasileiro.
Assim neste ano de 2023 a proposta da Campanha da Fraternidade é refletir sobre a situação de miserabilidade e insegurança alimentar de mais de 100 milhões de brasileiros, especialmente de 33 milhões que estão em situação de fome.
Segundo dados estatísticos mais de 58% de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar, que é dividida em três etapas: leve, moderada e grave. A insegurança leve diz respeito a baixa qualidade do alimento, que causa deficiências nutricionais; a moderada diz respeito especialmente aos adultos que não conseguem fazer ao menos três refeições ao dia e a grave se refere a pessoas e famílias inteiras que não tem garantias de fazer nenhuma refeição ao dia.
Diante desse quadro alarmante pela terceira vez a CNBB propõe que reflitamos sobre a dimensão da fome em nosso país.
A primeira vez aconteceu em 1975, com o tema: “Fraternidade é repartir”, Lema: “Repartir o pão”. Nessa ocasião vários movimentos se organizavam para denunciar a caristia do acesso a alimentação, sendo grande o número de pessoas em situação de fome. A segunda vez ocorreu no ano de 1985, com o tema: Fraternidade e fome, e o Lema: “Pão para quem tem fome”.
Em 2014 o país através de políticas públicas foi excluído do mapa da fome. Este mapa organizado pela Organização das Nações Unidas – ONU, apresenta os países que estão em situação de fome e miséria. Infelizmente em 2022 o Brasil é novamente incluído neste mapa.
Segundo o relato do evangelho segundo Mateus capitulo 14, uma multidão seguiu Jesus para ouvi-lo e serem acolhidos. Em dado momento, já ao entardecer, os discípulos dizem a Jesus para despedir a multidão, alegando que eram muitos para alimentar e não tinham como suprir essa necessidade. Então Jesus lhes responde: “dai-lhes vós mesmos de comer”, e em seguida promove a experiência da solidariedade daquilo que possuíam: cinco pães e dois peixes. A partilha alimenta a todos e ainda recolhe as sogras.
O Brasil era a 5ª economia do mundo, nos últimos anos regrediu para a 13º potência econômica num total de 195 países no mundo. Como é possível que uma nação tão rica, possa ter pessoas passando fome? Não seria como uma família que tem a mesa farta e exclui seus próprios filhos de se sentarem a mesa para se alimentarem?
O próprio Jesus afirma que toda vez que dermos de comer e, beber, estamos fazendo a ele, e seremos acolhidos em seu Reino como benditos de seu pai.
A Campanha da Fraternidade deste ano insiste nesse convite a sermos solidários com o Mestre e Senhor Jesus Cristo, nosso Divino Salvador, na pessoa de cada irmão que padece de fome e sede. Uma abençoada Campanha da Fraternidade no tempo Quaresmal a todas e todos.

Autor(a):
DOLAINE REGINA DE SOUSA COIMBRA SANTOS
Leiga Salvatoriana, Advogada, Teóloga,
Representante da Campanha da Fraternidade
Sub-regional Sorocaba – Regional Sul 1 CNBB