“Dai-lhes vós mesmos de comer”


A Campanha da Fraternidade tem origem nas reflexões de 03 padres das Cáritas Brasileira para arrecadar recursos para as ações assistenciais aos necessitados. Assim na quaresma de 1962 na Arquidiocese de Natal, Rio Grande do Norte é lançada sua primeira edição.

No ano de 1963 mais 16 dioceses do regional Nordeste aderem a proposta. Diante da ação bem-sucedida no ano de 1964 a CNBB – Conferência dos Bispos do Brasil expandem a Campanha da Fraternidade a nível nacional.Nos primeiros anos de 1964 e 1972 em sintonia com os ensinamentos e conclusões do Concílio Vaticano II, o tema proposto referia-se em repensar o modo de ser Igreja e a proposta de conversão voltando-se ao coração de Cristo, o Divino Salvador.

Tal projeto foi tão bem acolhido pela Igreja Universal que a partir do ano de 1970, Papa S. Paulo VI passa a enviar mensagem motivacional e de aprovação a Campanha da Fraternidade.

De 1973 a 1984, os temas apresentados explicitam a preocupação da Igreja com a realidade social do povo, denunciando o pecado social e promovendo a Justiça.  A partir de 1985 até os dias atuais A Igreja volta-se as situações existenciais do povo Brasileiro.

Assim neste ano de 2023 a proposta da Campanha da Fraternidade é refletir sobre a situação de miserabilidade e insegurança alimentar de mais de 100 milhões de brasileiros, especialmente de 33 milhões que estão em situação de fome.

Segundo dados estatísticos mais de 58% de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar, que é dividida em três etapas: leve, moderada e grave. A insegurança leve diz respeito a baixa qualidade do alimento, que causa deficiências nutricionais; a moderada diz respeito especialmente aos adultos que não conseguem fazer ao menos três refeições ao dia e a grave se refere a pessoas e famílias inteiras que não tem garantias de fazer nenhuma refeição ao dia.

Diante desse quadro alarmante pela terceira vez a CNBB propõe que reflitamos sobre a dimensão da fome em nosso país.

A primeira vez aconteceu em 1975, com o tema: “Fraternidade é repartir”, Lema: “Repartir o pão”. Nessa ocasião vários movimentos se organizavam para denunciar a caristia do acesso a alimentação, sendo grande o número de pessoas em situação de fome. A segunda vez ocorreu no ano de 1985, com o tema: Fraternidade e fome, e o Lema: “Pão para quem tem fome”.

Em 2014 o país através de políticas públicas foi excluído do mapa da fome. Este mapa organizado pela Organização das Nações Unidas – ONU, apresenta os países que estão em situação de fome e miséria. Infelizmente em 2022 o Brasil é novamente incluído neste mapa.

Segundo o relato do evangelho segundo Mateus capitulo 14, uma multidão seguiu Jesus para ouvi-lo e serem acolhidos. Em dado momento, já ao entardecer, os discípulos dizem a Jesus para despedir a multidão, alegando que eram muitos para alimentar e não tinham como suprir essa necessidade. Então Jesus lhes responde: “dai-lhes vós mesmos de comer”, e em seguida promove a experiência da solidariedade daquilo que possuíam: cinco pães e dois peixes. A partilha alimenta a todos e ainda recolhe as sogras.

O Brasil era a 5ª economia do mundo, nos últimos anos regrediu para a 13º potência econômica num total de 195 países no mundo. Como é possível que uma nação tão rica, possa ter pessoas passando fome? Não seria como uma família que tem a mesa farta e exclui seus próprios filhos de se sentarem a mesa para se alimentarem?

O próprio Jesus afirma que toda vez que dermos de comer e, beber, estamos fazendo a ele, e seremos acolhidos em seu Reino como benditos de seu pai.

A Campanha da Fraternidade deste ano insiste nesse convite a sermos solidários com o Mestre e Senhor Jesus Cristo, nosso Divino Salvador, na pessoa de cada irmão que padece de fome e sede. Uma abençoada Campanha da Fraternidade no tempo Quaresmal a todas e todos.

Diacono João Gualberto SDS

Autor(a):

DOLAINE REGINA DE SOUSA COIMBRA SANTOS
Leiga Salvatoriana, Advogada, Teóloga,
Representante da Campanha da Fraternidade
Sub-regional Sorocaba – Regional Sul 1 CNBB