Estamos vivendo tempos difíceis e dramáticos. A humanidade inteira foi afetada pela pandemia do coronavírus (Covid-19), como também aqui no Brasil. Os números estatísticos dos que morreram ou foram infectados mudam a cada momento. Portanto, trata-se de uma realidade muito complexa, nunca experimentada antes com tanta intensidade e abrangência e que traz enormes implicações na vida das pessoas, das famílias, da nossa Igreja e da sociedade civil, política e econômica.

Diante da medida tão necessária de ficarmos todos em casa, pelos menos, por enquanto, surge espontaneamente a pergunta: será que somos condenados a ficarmos completamente isolados dos outros em nossas casas, longe das comunidades cristãs? Como cristãos, membros da família de Deus, como vivermos nossa pertença à comunidade cristã, característica esta tão fundamental na profissão de nossa fé?

É inegável que as redes sociais tenham recebido um impulso inesperado desta praga do COVID-19. Nestes dias de fechamento de nossas igrejas e cancelamentos de tantas atividades pastorais, surgiu uma nova forma da Igreja doméstica, da Igreja do lar que aprendeu a ser uma comunidade viva, unida e orante, porém de forma virtual. É o novo modo de evangelização na cultura urbana. É um sinal dos novos tempos modernos: comunidade virtual.

Falando desta nova forma de comunicação, como não lembrar o que a Sagrada Escritura nos relata ao referir-se à Ascensão de Jesus que disse aos seus apóstolos: “Sereis minhas testemunhas (…) até os confins da terra” (At 1,8). Mas para que isto acontecesse, o Senhor disse ainda aos seus apóstolos: “Recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós” (At 1,8). Por isso, tenho certeza de que estamos vivendo um tempo inédito. O mundo não será igual após esta pandemia. É um tempo que pede ao cristão um novo ardor na evangelização. É necessário encontrarmos novos métodos, descobrir novas e diferentes modalidades para usar corretamente as ferramentas tecnológicas e divulgar a Boa Nova de Jesus. E é o Espírito Santo, que o Senhor derramou sobre sua Igreja no dia de Pentecostes, que nos ilumina e nos fortalece “para fazermos obras ainda maiores do que estas que eu faço”, diz Jesus (cf. Jo 14,12).

Porém, tenhamos cuidado com esta nova forma digital de viver e celebrar nossa fé que não pode, de forma alguma, substituir, por tempo indeterminado, a nossa participação presencial na Igreja e nas suas atividades. O Papa Francisco nos alertou sobre este perigo que ele chamou

de contato “gnóstico” com o Senhor. A “familiaridade dos cristãos com o Senhor é sempre comunitária. Sim, é íntima, pessoal, mas em comunidade. Uma familiaridade sem comunidade, sem Pão, sem Igreja, sem povo, sem sacramentos, é perigosa (…), uma familiaridade só para mim, desligada do povo de Deus” (Homilia do Papa na celebração da Santa Missa na Capela Santa Marta – 17/04/20). Supliquemos ao Bom Deus que passe logo esta pandemia para que nossas assembleias possam voltar a reunir-se para celebrarmos juntos a memória do Senhor.

Mas, também doutro lado, enquanto durar esta pandemia e nossas igrejas fechadas, não fiquemos parados, inoperantes, olhando para o céu (cf. At 1,11) e de braços cruzados: descubramos as modernas formas das redes digitais para deixar “nossos corações sempre ardentes” (cf. At 24,32), por Jesus, nosso Senhor, por seu Evangelho e pela nossa Santa Mãe Igreja.

Dom Vicente Costa
Bispo Emérito de Jundiaí (SP)

Fonte: https://www.cnbb.org.br/o-evangelho-de-jesus-e-a-tecnologia-digital/